Ministro durante o governo Temer e atual líder do governo na Câmara, Barros aprovou contratos de R$ 258 milhões durante dois anos, 98% sem licitação.
A CPI da Covid está investigando uma empresa de logística que ampliou a sua fatia no orçamento do Ministério da Saúde durante os dois anos em que o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), comandou a pasta. No período, a VTC Operadora de Logística, responsável pelo transporte de insumos, faturou R$ 258 milhões, dos quais 98% foram por meio de contratações com dispensa de licitação. O valor representa 70% a mais do que ela ganhou prestando serviços ao Ministério nos sete anos anteriores.
De acordo com o Portal da Transparência, a VTC começou a fechar negócios com o Ministério da Saúde em 2009. Daquele ano até 2015, a empresa angariou R$ 152 milhões em contratos com a pasta, todos conquistados por pregão eletrônico, o que representa uma média de R$ 21 milhões por ano.
O cenário mudou a partir de 2016, quando Ricardo Barros assumiu o ministério, logo após o afastamento da então presidente Dilma Rousseff (PT). Na sua gestão, a pasta fechou sete contratos com a VTC, num total de R$ 258 milhões – R$ 34 milhões em 2016 e R$ 223,5 milhões no ano seguinte.
O levantamento feito pelo jornal O Globo considerou apenas os acordos firmados no período em que Barros esteve no comando da pasta, entre maio de 2016 e março de 2018. Nesse biênio, seis dos sete contratos assinados entre a empresa e o Ministério ocorrera por dispensa de licitação. Eles representam R$ 253 milhões, ou 98% do total.
Barros, que já foi convocado a depor na Comissão, deixou o Ministério em março de 2018. No seu lugar, ficou Gilberto Occhi, também ligado ao PP. Na passagem de Occhi pela pasta, a VTC ganhou mais R$ 178 milhões em contratos, dos quais R$ 81,7 milhões com dispensa de licitação.
No governo Bolsonaro, a empresa fechou mais um negócio, em 2019. Foram mais R$ 21,9 milhões, desta vez por meio de pregão eletrônico. Segundo o “Jornal Nacional”, da TV Globo, o ex-diretor de logística do ministério Roberto Ferreira Dias avalizou um pagamento à empresa 1.800% maior do que o recomendado pela área técnica da pasta neste contrato.
Na semana passada, parlamentares do bloco que reúnem oposicionistas e independentes passaram a disparar requerimentos de informação sobre a atuação da VTC junto ao Ministério. Na quarta-feira, foi aprovada a convocação da CEO da empresa, Andreia Lima, para que preste depoimento à comissão. Os senadores querem desvendar a influência do Centrão sobre a assinatura e manutenção desses contratos.
Em defesa, Ricardo Barros afirma que os negócios não tiveram irregularidades. “A medida fez parte de um amplo processo de gestão que reviu contratos em todas as áreas do Ministério. Essa e outras ações geraram R$ 5 bilhões em economias”, diz.
Ao jornal O Globo, a empresa afirmou que desconhece “qualquer vantagem ou aumentos expressivos em contratos firmados com o ministério em 2016 e 2017”. Sobre o contrato com valor acima do apontado pela área técnica da pasta, a VTC defendeu a legalidade das ações e negou a existência de sobrepreço.