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Postado em 22 de agosto de 2014 Por Em noticias, Notícias E 1800 Views

Minha dor e o trabalho: acúmulo de funções traz LER-DORT para auxiliar administrativo

Joana* trabalhou por 23 anos como auxiliar administrativo no hospital de sua cidade, na região do meio-oeste de Santa Catarina. Dezoito deles foram na farmácia/almoxarifado, onde acumulava as funções de entregar os produtos e dar baixa no estoque, atendendo todos os 16 setores daquele estabelecimento de saúde.

A consequência ela sente aos 52 anos de idade: fraqueza nas mãos e braços e um afastamento profissional precoce, que já dura três anos. Ao longo de mais duas décadas de trabalho, ela tinha uma jornada de seis horas por dia, e um plantão de 12 horas aos finais de semana.

Joana trabalhava à tarde, e contou que, por cerca de oito anos, o controle do estoque da farmácia era feito à mão, em um caderno da farmácia. “A informatização do sistema chegou há uns dez anos”. Tempos depois, a direção do hospital decidiu unificar o almoxarifado, onde os profissionais retiravam material para cirurgia, limpeza, papelaria, etc., e a farmácia. Ou seja, se antes ela deveria apenas entregar medicamentos e controlar esse estoque, após essa mudança o serviço dobrava.

A quantidade de funcionários para a área, entretanto, continuou a mesma: dois auxiliares no período da manhã, um no período da tarde e um no período da noite.

A rotina

“A quarta-feira era o pior dia. Eu chegava às 13h, vinha uma caixa de mercado de cada setor com a demanda para uma semana. Eu tinha que atender: a UTI neo, a UTI adulto. o centro obstetrício, central de material, centro cirúrgico, emergência, maternidade, berçário, clínica médica, psiquiatria, área VIP, pediatria, cozinha, lavanderia, manutenção e raio X”. Ela carregava a caixa cheia de material do fundo da farmácia até o balcão. “Um dia, minhas costas travaram de um jeito que eu tive que sair do almoxarifado na maca do SAMU”, relembra.

Em 2010, foi diagnosticada por um neurologista com LER-DORT, e foi afastada com a justificativa de que havia sofrido um acidente de trabalho. “Eu passei um ano reclamando sobre as minhas condições de trabalho e sobre as dores, que pioravam. Mas ninguém da direção do hospital fez nada. Chegou um momento em que eu não aguentei mais”. Hoje, Joana faz tratamento com um neurologista.

As consequências afetam o dia a dia.”Se eu for fazer o rancho do mês, eu tenho dificuldade de tirar os itens do carrinho e colocar no caixa. Também não consigo dirigir por um longo tempo”, conta ela, sobre a recorrente fraqueza nos braços.

Outro agravante é a desconfiança de conhecidos, colegas, que muitas vezes desconfiam da veracidade da doença. “Ah! Sempre tem aqueles comentários: ‘Tá só na boa! Quando vai voltar a trabalhar?’. Isso machuca, desanima”, comenta. Além da tristeza de se sentir menos capaz, o medicamento trouxe o aumento do colesterol como um efeito colateral.

O problema já afeta outros trabalhadores

Do grupo de três pessoas que trabalhavam na área de raio X, uma segunda foi afastada pelo mesmo motivo de Joana, e apenas uma de duas vagas foram ocupadas. Ou seja: o hospital segue a deteriorar as condições de trabalho e é provável que mais trabalhadores prejudiquem seus movimentos motores e sua vida.

*nome fictício.

| Escrito por Camila Rodrigues da Silva – assessoria de comunicação/Fetessesc.

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